Matéria de ontem no Estadão, sobre matéria do NYT falando sobre o lobby hondurenho nos EUA:
“Micheletti conseguiu pressionar EUA a seu favor, diz jornal
‘New York Times’ diz que lobby do governo de facto pode influenciar até escolha do embaixador no Brasil
NOVA YORK – O governo de facto de Honduras lançou uma campanha para fazer lobby junto a senadores e ao Departamento de Estado dos EUA e aparentemente tem conseguido fazer com que os americanos apoiem Roberto Micheletti, informou nesta quinta-feira, 7, o jornal americano The New York Times.
(…)
O artigo publicado na primeira página do diário afirma que o plano “teve o efeito de obrigar o governo americano a enviar sinais contraditórios” sobre sua posição em relação ao governo de facto em Honduras e deve até influenciar a escolha do embaixador americano no Brasil.
(…)
Além de Reich, outro alto funcionário dos EUA, Daniel Fisk, convocou reunião com senadores e o Departamento de Estado poucos dias após o golpe. Funcionários do Congresso disseram que Fisk elaborou uma lista de pontos a serem discutidos no Senado, como a nomeação de Thomas A. Shannon, secretário-assistente de Estado, para embaixador dos EUA no Brasil. Os americanos consideram o País o líder para as questões latino-americanas. Fisk, entretanto, negou o fato.” [grifo meu]
O que diz a matéria do NYT?
“(…) [the hondurean campaign] has also drawn support from several former high-ranking officials who were responsible for setting United States policy in Central America in the 1980s and ’90s, when the region was struggling to break with the military dictatorships and guerrilla insurgencies that defined the cold war. Two decades later, those former officials — including Otto Reich, Roger Noriega and Daniel W. Fisk (…)
As is often the nature of lobbying, some messages have been sent without any names attached. Floating around Senate offices in the last few weeks, for example, was a list of talking points aimed at undermining the nomination of Assistant Secretary of State Thomas A. Shannon as ambassador to Brazil. Two Congressional aides, who requested anonymity to speak candidly about matters related to the coup, said that Mr. Fisk wrote the talking points.
Mr. Fisk denied having done so. He also dismissed the notion that he was operating from an old playbook. “Someone else may be fighting over the ’80s,” he said. “I’m not.””
Logo:
a) Sim, o governo golpista hondurenho contratou um lobby em Washington. Isso não tem nada demais, é só passear pela K Street com uma mala cheia de dinheiro.
b) Sim, o governo golpista hondurenho contratou ex-funcionários do governo, principalmente “political aides” do Bush pai.
c) Um desses EX-FUNCIONÁRIOS, Daniel Fisk, que serviu sob Bush filho, aparentemente andou pelos gabinetes dos senadores levando uma lista de pontos para a sabatina do provável candidato a embaixador no Brasil.
d) Logo, não é verdade, como diz a matéria do Estadão, que um alto funcionário do atual governo americano tenha levado uma “lista de pontos para ser discutida no Senado”. Daniel Fisk, pelo seu currículo, nunca foi funcionário concursado mas sim um “political appointee“, alguém que faz carreira em cargos comissionados de livre provimento, e atualmente é um operador ligado a think tanks conservadores que está apenas alimentando alguns senadores com uma lista de perguntas possivelmente talhadas para embaraçar o candidato a embaixador, no provável intuito de torpedear sua nomeação para a embaixada no Brasil.
Pode não ser por má fé que o Estadão faz estas coisas, mas com certeza é por mau jornalismo.
15 comentários
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outubro 9, 2009 às 7:53 am
Fred
Ô Hermê,
e quando vc usou o Estadão pra dar a notícia do Berluca? Tava mentindo, enganando ou desinformando?
outubro 9, 2009 às 8:09 am
ohermenauta
Prezado Fred,
Por obséquio, retire de novo suas duas patas anteriores do chão e nos brinde com uma tentativa de estabelecer um paralelo entre meu post sobre Berlusconi e este aqui, faiz favor.
outubro 9, 2009 às 8:54 am
aiaiai
Hermê
aproveito esse seu post sobre o estadão para perguntar:
vc não vai falar nada sobre essa confusão do Enem?
Isso tá mais enrolado que papel higiênico. A coisa toda não bate e parece que todo mundo concorda com fraude e pronto.
Eu, na minha imensa ignorância, não consigo entender por que cinco ladrões de primeira viagem, operários do chão de fábrica de uma gráfica, resolvem roubar a prova e vender ela pra um jornalão. Por que não venderam para um colégio, cursinho, grupo de alunos ricos???
Por que esse caras foram meter a imprensa na jogada? Eles queriam vender a prova ou melar o enem?
Detalhe: na conversa com a jornalista do estadão os caras dizem que receberam a prova diretamente de alguem do INEP…ou seja, nesse papo eles não pareciam tão ladrões de galinha, né mesmo?
Agora o jornal nacional faz materias de chorar com os pobrezinhos que ficaram sem a prova por causa da incompetência do Governo, né?
Até acho que rolou incompetência – contratar a gráfica da Folha??? -, mas não foi só isso, né? Quem são esses caras de verdade? Quem é que mandava neles? Os caras não inventaram isso sozinhos…
outubro 9, 2009 às 2:40 pm
Adriano Alves Pinto
E o que é muito estranho (ou muito escroto) é que nas matérias só aparecem os alunos se indignando com o ENEM. Ninguém vai se revoltar contra os caras que roubaram a prova? Os prejuízos foram imensos e os caras podem pegar 6 meses de prisão!!!!
Não acredito na teoria da conspiração nesse caso já que se eles tivessem segurado a prova para depois do ENEM o estrago teria sido muito maior.
outubro 9, 2009 às 5:06 pm
alessandro
Adriano, se eles tivessem deixado pra divulgar a prova DEPOIS do ENEM, quem iria acreditar em fraude? 🙂
outubro 9, 2009 às 9:11 am
marcos
Só não conta pro SLeo…
outubro 9, 2009 às 9:53 am
marcos
Tá certo, jornalismo bom é o seu.
Anonimo, logo, covarde; pago pelo estado, sendo no minimo aetico; mentiroso, porque insiste em chamar o governo constitucional de Hounduras de golpista.
Além disso, faz tradução livre e lê o que não está escrito, como nesse caso. Convenhamos quem é o despeitado?
MAM
outubro 9, 2009 às 10:29 am
ohermenauta
Marcos,
Primeiro, que graças a Deus eu não sou jornalista.
Segundo, que então uns 90% da blogoseira anaeróbica tb são covardes, inclusive você.
Terceiro, que sou pago pelo Estado para trabalhar, não para blogar.
Quarto, que um governo que depõe seu presidente porque ele “é de esquerda” é golpista mesmo.
Quinto, que você então tem que provar que a matéria do NYT não diz o que eu digo e sim o que a matéria do Estadão diz.
E sexto, você já sabe onde deve enfiar o quê.
outubro 9, 2009 às 10:34 am
Fred
O dono do blog acordou de péssimo humor hoje, felizmente, eu não.
Eu poderia até tentar te explicar o porquê de usar uma fonte depois criticá-la de mentirosa, engandora e desinformadora é, no mínimo, questionável. Mas não vou. Pelo simples fato de que vc, por conta um comentário aqui, já definiu minha inteligência.
Então, descubra aí sozinho, ô ser superior.
outubro 9, 2009 às 1:45 pm
ohermenauta
Ah, é isso?
Bem, porque no caso onde o Estadão cita o NYT ele claramente mentiu e enganou, enquanto no caso do Berlusconi é só ir ler a imprensa italiana que tá lá o corpo estendido no chão.
É claro que você está livre para imaginar que o Estadão está tão interessado em fazer a diplomacia brasileira aparecer mal quanto em derrubar Silvio Berlusconi, mas eu diria que essa é uma tese ousada.
outubro 9, 2009 às 10:52 am
He will be Bach
Fred:
Ora bolas, aquilo que o Berlusconi falou saiu até no Metro, o jornalão gratuito de esquina. O Estadão não “é” mentiroso “em si”. Se o que ele disse é corroborado pelo resto da mídia, ótimo, pois aí fica indiferente citar um ou outro.
Agora o ponto é, justamente, que nesse caso o cotejo mostrou uma falha grosseira do Estadão.
Hermê:
Ah, não, assim já é demais. Você exige que alguém que ponha “inglês fluente” no currículo tenha mesmo inglês fluente? Assim já é demais. Onde vamos parar??
aiaiai:
Tão ruim quanto a confusão foi a frase do Tarso Genro: “Esse roubo [ok, furto] mostra que a sociedade está consciente da importância do Enem”. Beleza. Então, o furto do Bacen mostra que “a sociedade” está consciente da importância do Bacen, assim como aquele caso de venda de provas do CESPE mostra que “a sociedade” está consciente da importância da Polícia Rodoviária Federal. Dã.
outubro 9, 2009 às 12:38 pm
Marola
Mais um de fora ensinando a um jornalista o seu próprio ofício. E também não acho que foi sem querer não. Assistindo recentemente um programa no canal Globo News no qual o único que tinha alguma coisa interessantea dizer era o Sergio Leo, fiquei pasmado com a parcialidade indecorosa da apresentadora Cristina Lobo, que alia numa combinação nauseante, boas maneiras e absoluto desprezo pela objetividade jornalística.
outubro 9, 2009 às 2:43 pm
Adriano Alves Pinto
E na matéria do Estadão, eu tinha entendido que o Fisk queria sugerir o nome do embaixador no Brasil. No original fica claro que ele queria era barra-lo.
outubro 10, 2009 às 12:59 am
SLeo
Obrigado a discordar de quem quer que seja que fale mal da minha querida amiga Cristiana Lobo (apesar de agradecer de coração o elogio ao marola), só tenho uma coisa a dizer: intelectuais como você, hermê, me fazer balançar em minha convicçãod e que o diploma de jornalista é essencial ao exercício da profissão.
Você é bom pra cacete. Tenho dito.
outubro 10, 2009 às 6:42 am
ohermenauta
Ha!
Não pense que passou desapercebida a ambiguidade desse “você é bom pra cacete”, seu velho sabujo da Imprensa! 🙂
abração!